22 de agosto de 2013

Masturbação e seus tabus

A masturbação é uma prática carregada de tabus e mitos. Frequente tanto entre a população masculina quanto entre a feminina, é reprimida pela igreja e pauta proibida em muitas famílias. É verdade que entre as mulheres esse assunto é muito mais complicado, já que nossa milenar cultura cristã admite (mesmo que “por baixo dos panos”) que os homens se masturbem para conhecer seu corpo, provar a própria virilidade, para eliminar o acúmulo de sêmen em seu organismo, ou apenas para matar um desejo inato, uma necessidade fisiológica de ejacular, ao passo que as mulheres são exortadas, desde crianças, a não tocarem e não manipularem seus genitais. É preciso compreender e assimilar que os estímulos sexuais vêm impressos no ser humano, em seus genes mais primitivos. Ainda que vivêssemos sós em uma ilha, fora de contato social, o despertar da sexualidade aconteceria da mesma forma, a mando da natureza, numa época coincidente ao início da adolescência.

Engana-se quem pensa que sexo é a dois (no mínimo). 

Sexo, primeiramente, é um. 

É a oportunidade que cada indivíduo tem de entrar em contato com seus instintos, seu íntimo, sua essência, suas fantasias, suas sensações, e tudo isso por meio de sua própria casa, seu corpo. E diferente do que possa ser dito por aí, estar em contato íntimo com seu próprio corpo, livrando-se de pudores sociais pré-concebidos, pode contribuir (e muito!) para a construção de uma individualidade sólida, mais segura e confiante, atitude que só é expressa por nós, seres humanos, após nascer em nosso interior.
Não estou dizendo que o fato de se masturbar pode tornar alguém mais autoconfiante, mas que essa prática, como forma de exploração do próprio corpo, não pode e não deve ser reprimida, principalmente em pessoas que ainda estão formando sua personalidade, que estão tenros nas questões reflexivas a que nos impomos todos os dias. Estar bem com seu próprio corpo e não ter medo ou nojo dele, encará-lo como seu instrumento diante do mundo e como a construção material do que se passa dentro de você é fundamental para que as questões psíquicas caminhem sem transtornos, é fundamental para a boa dinâmica social. Sexualidade é um dos instintos mais básicos dos seres humanos. Estar confortável com seu próprio deleite sexual é um pré-requisito para conseguir aceitar o prazer proporcionado por outras pessoas e para que se possa oferecer o mesmo. Como você pode trocar prazer com alguém se você não entende o que o seu próprio corpo gosta?

Discutir sobre masturbação na sociedade atual ainda causa constrangimentos. No entanto, especialistas dizem que a masturbação faz parte da descoberta sexual, sendo natural a prática entre homens e mulheres de todas as idades. Porém, o maior dos tabus é a masturbação feminina. A maioria das mulheres que se masturbam, não assumem. Um pensamento frequente (porém infundado) é que admitir que se masturba pode trazer uma imagem de vida sexual mal resolvida à mulher, ou de que ela precisa fazer isso por incompetência do seu parceiro. Uma coisa não tem nada a ver com a outra, masturbação é uma prática íntima, que dispensa explicações ou escusas, que cabe apenas a quem realiza, a você e a seu corpo. Talvez, pelo peso desnecessário conferido à palavra “masturbação” – justamente por conta da áurea de proibição que a envolve –, se chamássemos de “toque” a discussão seria mais fácil. Mulheres se permitem dizer que tocam o seu corpo, mas se você insistir que é masturbação, muitas negarão, além de expressarem vexame e vergonha.



Para as mulheres, a negação da masturbação está intimamente ligada à cultura machista e repressora. Ora, à idade de nossas avós as mulheres se casavam virgens, sem sequer terem tido contato com nenhum homem antes. Eram criadas para serem exclusivamente donas do lar, cuidar da casa e dos filhos. A maioria tinha seus pensamentos e ideias reprimidos, não podiam sequer expressar sua opinião. Será que elas se tocavam? Será que sabiam qual a sensação de cada parte do seu corpo? Há pouco mais de 50 anos temos pílula anticoncepcional, isso significa que há pouco mais de 50 anos as mulheres têm o direito (!) de escolher sobre o principal rumo de seu corpo, se querem ou não gerar outro ser humano. Mas esse texto é sobre masturbação, não sobre a revolução sexual feminina. No entanto, precisamos desse contexto histórico para compreender que a repressão burra que vivemos é culpa também nossa, também da nossa atitude diante de questões que são animalescas, instintivas e, acima de tudo, humanas, como a masturbação por exemplo. 

Negar seu próprio corpo é negar a si mesmo.

Espinhas no rosto, mãos amareladas, pecado contra deus, autopunição, adultério (parece absurdo, mas algumas religiões e sociedades consideram a masturbação uma forma de adultério) e as diversas punições e manipulações de mente em torno do assunto masturbação. Muitas dessas ideias quem transformou em palavras foi a instituição católica, com seus dizeres de Jesus e suas interpretações convenientes para cada assunto relacionado à liberdade de expressão (mental e física) de seus devotos. Punições divinas que mais parecem demoníacas. Para a igreja, não há dúvidas de que na maioria das situações as ações que levam à masturbação são pecaminosas; a masturbação nasce de pensamentos sensuais, estimulação erótica e apreciação de imagens pornográficas. A religião coloca a masturbação no rol de pecados da luxúria, como o resultado final de pensamentos sensuais que, segundo a bíblia, são impuros e afastam as pessoas de deus. Ora, não é espanto que a repressão sexual nasceu na igreja!

Porém, a raiz do preconceito está na infância, quando a maioria dos pais evita discutir o assunto com os filhos – e principalmente com as filhas. Os meninos e as meninas são exortados a não colocarem as mãos em seus membros, a não brincarem com eles, a não falarem deles, a tocá-los apenas durante o banho, para a higiene. São áreas restritas do corpo para a própria criança. Em muitos casos, quando uma menina ou um menino acaricia ou toca seus genitais é reprimido e condenado, construindo na criança a imagem de que a manipulação das partes íntimas é um ato sujo e proibido. E nesse ponto temos também a questão do sexismo, que fica claro quando o menino pode andar pelado pela casa, enquanto que a menina precisa cobrir o peito e o bumbum.



É claro que ao abordar questões tão intrinsecamente ligadas à construção social vigente versus desejo inato humano muitas problemáticas são levantadas, e quase nunca se chega a um consenso. O objetivo deste texto, no entanto, não é dizer para você que se masturba que você está certo, ou para você que abomina a masturbação que você está errado. A pior prisão é a da mente, pois encerra os pensamentos e cega. A intenção aqui é colocar a masturbação como um assunto em pauta, diante dos seus olhos, para que você reflita, baseado em suas experiências como ser social e como indivíduo. Sabemos por estudos de psicólogos, psiquiatras e médicos que tudo o que acontece na vida de uma criança, todos os estímulos e os não estímulos, repercutem na formação do caráter. Um ato de repressão desnecessária enquanto criança pode tornar a fase da adolescência um transtorno, ocasionando problemas de ordem mental e psíquica para vida adulta. Quebrar paradigmas e transformar a sociedade requer tempo e paciência, por isso, reflita. Qual sua atitude diante deste polêmico assunto? Você se reprime a ponto de ter asco deste texto? É um convite à reflexão, expressem-se!


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