29 de janeiro de 2012

Eu sempre tentei compreender o nosso meio-fim, mas nunca fui capaz. Eu não sei, talvez fosse falta de esforço, falta de vontade, tanto faz. Acho que nunca estive preparada para lidar com tudo o que restou de você. Eu sou essa desgraça que tem medo de lidar com a dor; essa que implora por mais uma chance só por ter medo de ficar sem algo que antes completava toda a minha rotina. Mas, ontem, eu estava deitada na minha cama – não vou negar, era justamente no lado esquerdo, onde você se encontrava nas nossas noites falidas – e eu não chorei. Não pensei. Não senti. Não lembrei. E, pode não parecer, mas diante de como eu estava destruída, isso foi um grande avanço. Por um instante, minutos, horas, talvez, eu me vi livre. Por Deus, eu não te queria mais. Era o fim, definitivamente, chegou o momento de encarar que não havia mais volta – e eu aceitei. Mesmo que eu já tinha repetido isso para mim diversas vezes. Somos reincidentes em finais. Eu apaguei teu número da minha agenda, risquei com um x bem grande os bilhetes que você grudava na geladeira, e substituí nossas fotografias nos porta-retratos por imagens que somente me estampavam. Era eu. Agora, seria eu. Guardei todas as tuas lembranças, pois não queria me confrontar com mais nada. Não queria ter uma recaída, ou qualquer outra coisa, como você preferir chamar. Mas, enquanto eu fujo de nós dois, algo sempre me puxa de volta. Dessa vez foi o espelho – eu não me reconhecia mais. Não me enxerguei mais, pois não sou mais a mesma, me perdi. Perdi você. E, por favor, quem eu quero enganar? Eu não sei te esquecer. Essa é a cruel e mais pura verdade. E é então que eu desabo. Eu não sei você, mas detesto chorar. Fraqueza demais. Mas, o pior disso tudo, é que sempre que me recordo de nós dois, eu choro. E eu sei que você não faz o mesmo, que você não sente falta, que você não sofre a minha ausência. Foi você que me pediu, que implorou para que eu te deixasse. Foi você que percebeu que nós dois já não deveríamos mais existir; digo, nossa união. O mais triste, é que eu não consigo mais ser uma pessoa comum. Me tornei tão você, que agora que eu já não te tenho mais, eu sou ninguém. Consegue entender? Consegue compreender o quanto você me destruiu? Eu tento, juro, tento seguir em frente, te deixar; mas aí eu vejo você na rua, mas não é você. E então eu ouço tua voz, mas não é a sua voz. Eu sinto o seu perfume, mas não é o seu perfume. E eu torço baixinho, para que eu não esteja ficando louca. E aí eu faxino você de minha vida – jogo fora tuas meias brancas e sujas que estavam na máquina de lavar, despejo teu perfume na pia, e a tua escova de dente que se localizava ao lado da minha foi parar do outro lado da janela. E eu me sinto tão madura, tão auto-suficiente. Tão você. E aí eu me dou conta, é você novamente. E eu caio. Será que isso vai passar? A gente esquece um amor desses? Tão fugaz, tão audaz. Mas eu repito a mim mesma que eu tenho que seguir em frente. Tenho que te deixar pra lá. Sei lá, cortar o cabelo, comprar roupas novas, sair com os amigos, talvez melhore, talvez eu deixe de pensar em você o tempo todo, talvez eu não te queira mais sendo o meu melhor amigo, meu amor, talvez eu já nem sinta mais nada. Mas eu não quero seguir em diante. Eu quero ficar onde estou, mesmo sem você. Eu não quero ficar bonita para alguém que não seja você. Por Deus, que ridícula que eu estou sendo! O fato é que eu não posso enganar a mim mesma; eu quero empacar para sempre numa esperança absurda de que você volte. Droga. Eu estou tão perdida. Vai passar, vai passar, você vai ver, vai passar. Já passou. É, já passou. O meu problema é o que ficou. E eu repito, a todo instante, de que nada aconteceu, de que não foi nada, de que tuas mentiras, tua farsa, tua falsidade não significou nada. Às vezes eu acredito, e às vezes eu sinto tanta raiva de você, que tenho vontade de correr até sei lá onde e te massacrar. Fazer você sentir um terço do que eu senti, pra tu perceber que dor física nenhuma se compara a isso. Eu adoraria te encontrar e te dizer os piores desaforos, gritar palavras estúpidas e sem sentido dessas que a gente diz quando bate o dedo numa quina. Mas eu não faço nada, fico em silêncio. Desses que nós ficávamos quando você estava com ciúme do cara que eu fui a fim a vida inteira – até chegar você. Eu vivo nessas recaídas, nesses altos e baixos, nessa minha loucura de acreditar que por fim estou te esquecendo e minutos depois me dou conta de que você continua vivinho aqui dentro. O desespero acalma, a vontade de ser tua também. Às vezes parece até mais fácil, talvez porque eu esteja fadada de tudo isso. Eu deveria te deixar pra lá e seguir a diante como você está fazendo, mas eu me sinto vazia. E, antes cheia de você me massacrando, do que vazia. Talvez qualquer dia desses eu te encontre na rua, e talvez eu esteja tão no alto, que não te note. Que teus olhos não me desestabilizem. Que teu cheiro não me enlouqueça. Talvez, quem sabe, te esquecer é o próximo passo. Bonita a época em que éramos um só; mas eu tenho que admitir, amor, conto de fadas não existem. Você não é um príncipe e eu não sou a princesa. Nós não fomos feitos para ser para sempre.

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